Saúde Mental de Populações Negras

O ano de 2020 está sendo único para todos os povos do mundo. Além de estarmos enfrentando uma pandemia, nosso olhar afetivo foi duramente atraído para a questão do preconceito racial. No texto de hoje eu gostaria de chamar sua atenção para a saúde da população negra, e em especial a saúde mental dos afrodescentes.  

Em 25 de maio deste ano, o mundo assistiu chocado o vídeo no qual se ouve a voz de George Floyd, negro norte americano que teve sua morte filmada. Sua voz ainda ecoa com seu clamor: “eu não consigo respirar…”. 

Mais do que um ato fisiológico, este suspiro pela vida reflete o emocional de uma população, afrodescendente, que tem suas emoções, sentimentos e sofrimentos sufocados e vivem sob a coação de não poder viver conforme seu natural mas ter que se “adaptar” a uma cultura eurocêntrica.  

Neste momento gostaria de fazer duas perguntas. A primeira direcionada à você que não é negro: como você se sente ao ver um ser humano morrer? Feliz? Triste? Chateado? Agora a segunda, você negro que assiste um homem negro morrer clamando por sua vida e dizendo “não consigo respirar…”, como você se sente? Feliz? Triste? Com medo? Desanimado?

Talvez você que me lê, ache estranho estes questionamentos. Mas é importante deixar claro que para o nosso cérebro existe uma conexão – empatia – com o indivíduo sofredor e as consequências emocionais serão diferentes. Se você é branco seu cérebro sofrerá um grau de estresse bem menor do que o que será vivenciado por um negro.

Sendo assim, a saúde mental da população negra sofre uma ação direta do preconceito. Neste momento gostaria de avaliar a definição do termo preconceito – conjunto de teorias e crenças que estabelecem uma hierarquia entre as raças, entre as etnias

Deste modo, o preconceito se propaga em rebaixar uma determinada raça e colocá-la em um lugar inferior. E as consequências são desastrosas.

Quando falamos da chance de cometer suicídio, um negro tem 20% mais chance de fazê-lo do que um branco. Entre a população geral, quando avaliamos depressão grave, vemos que 62% destes eram pretos – dados de 2012.

E talvez aqui possa ter passado por sua cabeça o pensamento: “mas isto não tem relação com a genética deles, dos negros…”. E sou obrigado a dizer para você que não. Não existe qualquer relação genetica que determine a frequência maior da depressão entre negros do que entre brancos. Nos resta concluir que este estado emocional que pode levar a morte é resultante da soma de diversos fatores mas que não estão nos genes. 

Um destes fatores é o acesso aos serviços de saúde. Dados revelam que 40% dos brancos buscaram serviços de saúde contra 2,5% de pretos resultado direto de como vivem os afrodescente,  geralmente marginalizados nas periferias dos grandes centros. 

Outro fator elencado é que a discriminação ocorre em todos os níveis sociais. Mesmo em estado de igualdade de salário, bens e profissional o negro brasileiro tem 50% maior chance do que brancos de sofrerem discriminação

Desta forma o cérebro de um individuo negro está sob constante ataque de múltiplos fatores estressores, tanto internos como externos. Imagine que o negro percebe o preconceito através de suas experiências de vida, somado a isto vive antecipando momentos nos quais estas vivências dolorosas podem acontecer/reacontecer e finalizando ainda se obriga, de forma inconsciente muitas vezes, a tentar se encaixar em padrões que não foram concebidos para seu tipo de cabelo, forma física e tonalidade de pele. 

E estes fatos são antigos em nossa sociedade. Quando Jean Baptiste Debret pintou uma cena pitoresca da vida da população brasileira ele deixou claro o quanto o estilo de vida em terras tupiniquins era influenciado por um eurocentrismo e o quanto a escravidão estava presenta na nossa sociedade. No quadro “Um Jantar Brasileiro” – que na verdade era o almoço de hoje – ele comenta: “…a mulher se distraía com os negrinhos que substituem os doguezinhos”. Já percebemos aqui que as crianças pretas eram comparadas a animais que “divertiam” os brancos brasileiros. 

Um Jantar Brasileiro – Jean-Baptiste Debret

Ao observamos a cena retratada vemos que os portugues estão vestido com roupas cheias de panos – no calor que segundo o próprio Debret poderia chegar aos 45oC – comendo com talheres. Uma negra escrava espanta as moscas e outros dois negros estão em prontidão para atender qualquer vontade dos seus donos. 

Se você fitar o olhar do negro para a mesa perceberá um olhar mais profundo para a mesa. Enquanto os escravos eram alimentados com bananas e algumas porções de farinha e rapadura, à mesa destas duas pessoas há comida em excesso.

Outro quadro mostra o preconceito e a desvalorização da raça negra, de forma até internalizada pelos próprios pretos, é: A Redenção de Cam de Modesto Brocos. Nele, Brocos aborda o “embranquecimento” que eram ideais difundidos na sociedade brasileira com o objetivo de “purificar e redimir as populações negras”. Na pintura percebemos que a tela se constrói ao redor de uma criança branca – ponto mais branco de toda a pintura e o que mais atrai o olhar a primeira vista. 

A Redenção de Cam – Modesto Brocos

À esquerda do observador vemos uma mulher negra, próxima a uma palmeira – selvagem – faz um movimento de dar graças pelo que ocorre na cena. Já à direita do observador vemos um homem branco, sentado em postura europeia numa casa e com os pés sob um chão revestido por pedras – civilizado.

A criança branca é segurada por uma mulher, ainda com traços negros, porém de pele mais clara. A duas mulheres da tela são negras, porém usam roupas a moda europeia numa clara referência ao apagamento modelagem de vestimentas africanas. Chega a tal ponto essa negação cultural que a moça que segura a criança é pintada em semelhança a Virgem Maria mãe de Jesus. Ela está com um manto azul e com o mesmo modo do braço direito e o simbolismo nas posições dos dedos de diversos quadros religiosos. 

Novamente vemos que a valorização do branco é representada ao vermos que os homens – considerados superiores e de maior valor – são brancos e as mulheres – inferiores e por quem o pecado entrou no mundo – são negras. E neste sentido, Modesto mostra o quanto a religião teve participação na escravidão das comunidades negras. Vemos no título da obra as palavras redenção e Cam. Com a primeira, que significa resgatar o gênero humano e purificá-lo, vemos a intenção de Brocos de evidenciar essa narrativa da igreja romana. Na segunda palavra, Cam, temos a análise mais absurda feita de um texto bíblico. Cam foi um filho de Noé que recebeu uma maldição de ser escravo de seus irmãos por ter visto seu pai nú e ter ido debochar disso com seus outros irmãos – Jafé e Sem. Desta forma, vários teólogos europeus usaram esta passagem da narrativa bíblica para justificar que os negros deveriam ser escravizados. Porém não nenhuma fundamentação histórica ou arqueológica que ligue os povos africanos à descendência de Cam.

Voltando ao quadro vemos que os personagens negros estão aparentemente felizes em abrir mão de suas origens em favor de parecer com os brancos. Mas será que era uma alegria verdadeira ou uma mera satisfação por saber que a próxima geração não teria que experienciar as mesmas situações desfavoráveis?

Uma clara verdade que todos nós que lidamos com saúde mental sabemos é que quem não tem orgulho de suas origens está mais propenso a sofrer de baixa autoestima e transtornos emocionais

Lamentavelmente o resultado é que a população negra sofre mais do ponto de vista da saúde mental. Gostaria de retomar com você aquelas perguntas que fiz antes: como você se sente ao ver um negro morrer por asfixia mecânica sob o joelho de um policial branco enquanto clamava: “eu não consigo respirar…”. 

Se você é branco e ainda possui traços de boa humanidade provavelmente você ficará triste, chateado e no máximo revoltado. Mas se você for negro, seu cérebro fará uma simples leitura: poderia ser eu no lugar dele, logo o sofrimento emocional experimentado será infinitamente maior. Percebem a diferença? 

Lutar contra o racismo é salvar vidas. Você não precisa ser um profissional da saúde para trabalhar na linha de frente salvando pessoas da morte. Daí mesmo do seu local é possível
à você fazer isto. Pense em como seu papel, como suas ações ainda refletem o racismo estruturado em nossa sociedade. Avalie como você pode agir para reparar a dívida histórica que temos com os pretos. Repense quais vantagens você possui por ser branco.

Agora, especialmente para você negro que está me lendo, eu gostaria de dizer: não desista dos seus sonhos. Não deixe que pessoas ditem o valor que você tem ou a forma como você deve agir, ser ou se vestir. Seu valor é medido pelo sangue de um Deus que te ama não por sua cor de pele, mas pelo que você é: filho dEle. Este mesmo Deus não exige que você use tal roupa, tenha um nariz fino ou possua um cabelo liso. Suas únicas exigências são que você O ame de todo o seu coração e ao próximo na mesma medida que você se ama. E se for preciso procure ajuda em saúde emocional relevante. 

Sidilene Antônia Mudesto Mulher negra de 43 anos, que trabalha como nutricionista na periferia de São Paulo – Capão Redondo – há 12 anos. Precisamos falar sobre racismo e o quanto ele é prejudicial para nossa sociedade. Neste artigo eu converso com Sidilene Atônia Mudesto, uma mulher negra de 43 anos, que trabalha como nutricionista…

Amor na Quarentena

Vamos começar este texto com um questionamento: vale a pena acreditar no amor mesmo em época de pandemia?  Talvez você já esteja desiludido(a) com o amor, ou até mesmo achando que você tem algum defeito e que nunca vai conseguir encontrar o “grande amor da sua vida”. Esses e outros questionamentos chegam a ser angustiantes…

Pornografia na Quarentena

Bom, vamos começar este artigo definindo o que é pornografia: Pornografia: substantivo feminino – Origem etimológica: porn(o)- + -grafiacoleção de pinturas ou gravuras obscenas.característica do que fere o pudor (numa publicação, num filme etc.); obscenidade, indecência, licenciosidade.qualquer coisa feita com o intuito de ser pornográfico, de explorar o sexo tratado de maneira chula, como atrativo (p.ex., revistas, fotografias,…

Sidilene Antônia Mudesto

Mulher negra de 43 anos, que trabalha como nutricionista na periferia de São Paulo – Capão Redondo – há 12 anos.

Precisamos falar sobre racismo e o quanto ele é prejudicial para nossa sociedade. Neste artigo eu converso com Sidilene Atônia Mudesto, uma mulher negra de 43 anos, que trabalha como nutricionista na periferia de São Paulo – Capão Redondo – há 12 anos. Uma das situações motivadoras desse bate-papo foi a morte do norte americano George Floyd. Este homem negro foi assassinado friamente por um policial branco que ficou com seu joelho em cima do pescoço de Floyd por 8 minutos e 46 segundos enquanto aquele suplicava por sua vida 11 vezes clamando que não conseguia respirar. Nesta entrevista vamos dar voz ao lugar de fala de Sidilene. Através de suas experiências de vida refletiremos sobre como nos dias atuais se tornou ainda mais necessário discutirmos sobre racismo

Pra você racismo existe?

Existe e em alguns momentos ele é velado, estruturado, mas ele existe. É que a gente pensa que foi uma brincadeira… A gente aprendeu a lidar com isso. Eu acho que a força que a gente tem dentro é tão grande que às vezes recebemos uma agressividade e você pensa “será que foi mesmo? Será que ele quis dizer isso?”, como que conota isso para a gente? Mas ele existe sim.

E a partir desta vivência, qual seria a definição de racismo para a Sidilene?

Racismo para mim é falta de amor. É falta de amor porque quando a característica, não só a cor, sobressai ao que eu sou como pessoa isto é para mim totalmente falta de amor. Eu acho que a pessoa não tem respeito e amor por ninguém quando ela pratica racismo.

O dicionário define racismo como: 

  1. Conjunto de teorias e crenças que estabelecem uma hierarquia entre as raças, entre as etnias.
  2. Doutrina sistema político fundado sobre o direito de uma raça (considerada pura e superior) de dominar outras.
  3. Preconceito extremado contra indivíduos pertencentes a uma raça ou etnia diferente, geralmente considerada inferior.
  4. Por analogia, atitude de hostilidade em relação a determinada categoria de pessoas.

Percebemos que o racismo tem um pressuposto no qual existe uma raça, um determinado grupo de pessoas que possui superioridade e está acima, no sentido de valor, de um outro. 

O racismo já trouxe muitos problemas na história humana e muitas guerras já foram travadas por isto. Em todos os continentes vemos relatos de massacres de povos e não existe um país que não tenha sofrido com o racismo ou que não tenha seu solo manchado pelo sangue de escravos. 

Você percebe algum lugar no qual o racismo seja pior? Um ambiente, um país ou mesmo uma região do Brasil?

No Brasil a gente vê muita desigualdade. Eu trabalho na periferia. Se vemos um negro dirigindo um ‘carrão’ alguém olha, a polícia para. Geralmente quando a polícia para fazer algumas vistorias, alguma ‘batida’, é geralmente um negro que eles estão lá, apalpando e fazendo isto de um jeito agressivo… Se você vai em certos shoppings da cidade você não vê um negro trabalhando, é muito raro. Então eu acredito que tem sim alguns lugares em que o racismo é pior. E em contrapartida há alguns lugares também que quando eles veem um negro, acham bonito, eles olham com olhares de encantamento.

Você já sofreu racismo?

Eu já. Eu fui para a Bahia, fiquei alguns dias lá e voltei ‘mais’ negra, mais preta do que eu sou, e fiz “marquinha” de biquini. E certa pessoa na empresa em que eu trabalhava falou “nossa, você̂ queima?”, então eu disse “sim”. E ela continuou: “e quando você̂ queima, arde?”, então eu falei: “deixa eu te falar uma coisa, quando eu me sento no vaso, saí número dois, quando eu corto sai sangue…”. Eu não consegui falar mais nada para esta pessoa. Isso aconteceu há uns 10 anos e está gravado até hoje. O que mais me chocou é que, esta mulher que falou isto, é filha de negra. Pela minha trajetória eu acredito que o racismo é ensinado. Eu passei por isto e consigo lidar bem com isso. Se isto vier de novo eu acredito que consiga lidar novamente. O que é mais gostoso é você ter maturidade de não ser tão agressiva. Porque a agressividade faz isto com a gente, ela faz a gente devolver de repente de um jeito ruim. E vale a pena discutir certas coisas com sabedoria, com equilíbrio, com recursos de fala.

Pela minha trajetória eu acredito que o racismo é ensinado.

Esse racismo já aconteceu no seu ambiente de trabalho?

A gente percebe olhares diferentes. A gente trabalha em uma unidade de saúde, então quando me veem sem jaleco ou sem crachá, pensam que eu possa ser uma mocinha da limpeza. E quando você se apresenta como nutricionista, ou como médica ou como fisioterapeuta as pessoas te olham torto. Você percebe um olhar, de em cima até embaixo, até chegar no seu rosto. O quanto que isto é ruim, deprimente. Às vezes você fala como que ainda pode no mundo existir isso?

George Floyde

Faz poucos dias – 25 de maio de 2020 – assistimos chocados, pelo menos os que ainda possuem um traço de humanidade, a morte de George Floyde homem negro, de 46 anos, morto por asfixia mecânica sob o joelho de um policial branco enquanto clamava dizendo: “I can’t breathe” traduzindo: “eu não consigo respirar…”. 

Sidilene, você viu o vídeo da morte de George Floyd

Vi. Eu confesso que quando vi o vídeo, no dia 25 de maio, a gente já estava sofrendo muito em São Paulo, com as questões da pandemia do Covid-19, estávamos todos muito fragilizados. Mas esta reportagem me chocou muito porque o policial estava em cima dele. E no primeiro momento eu pensei “não quero ver isso porque é muito chocante, muito sofrimento”, e não assisti. Mas depois eu assisti o vídeo e realmente é triste demais, a técnica que ele aplicou é a técnica do estrangulamento. Ele pediu 11 vezes para ele parar, que ele não estava conseguindo respirar e não houve nenhum movimento de respeito contra aquela vida. Independente da cor que estava ali, era um ser humano.

Que sentimentos você tem ao ler esta notícia?

Tristeza. Raiva. Angústia. Dó. Impotência. Sentimentos de dor mesmo. De não conseguir fazer nada. E foi-se uma vida. Foi-se várias outras vidas. Quantas vidas realmente já se foram com atitudes grosseiras como essas? Então isto realmente foi de querer chorar, de fica com um ‘nó’ na garganta. Quando você retorna à este vídeo é forte demais. Eu lembro que virei logo, que sai da página para não querer ver mesmo, porque é uma coisa que machuca. 

Esse acontecido provocou uma onde de protestos pelo mundo. Você acha isso uma forma válida de lutar contra o racismo?

Eu acho. Foram depredados muitos patrimônios, foram invadidas algumas lojas e teve alguns feridos. E tem gente que fala assim: “nossa, mas é muito barulho…”. Eu acho que a gente não pode parar de gritar. Se a gente está falando baixo e as pessoas não estão ouvindo, a gente precisa continuar gritando até que alguém escute. Não sou a favor de agredir, derrubar, destruir. Mas repare a agressividade que é o racismo. Olha o sofrimento que causa em um monte de outras pessoas, inclusive naquelas pessoas que estão lá, tentando defender. Eu acho que tem que continuar gritando sim.

Em um desse muitos protestos manifestantes queimaram a delegacia de Minneapolis na qual trabalhavam os policiais assassinos – sem ninguém dentro do prédio.  Pra você isso é um exagero ou uma reação esperada pelo nível de violência que os negros vêm sofrendo?

Delegacia de Minneapolis – fonte divulgação.

Foi uma reação esperada. A violência ao patrimônio é uma coisa muito ruim. Mas o racismo também é agressivo. É uma violência forte. Então, esses tipos de coisas precisam acontecer. Na realidade eu acho que as pessoas estavam tentando mostrar de forma pacífica as suas inquietações, o que não estavam gostando. Infelizmente aconteceu a queima dos patrimônios, de locais que estavam vazios. Mas eu sinto que o racismo é maior e mais violento que a própria queima dos patrimônios.

Trazendo para nossa conversa uma citação de Angela Davis, uma mulher negra, pensadora, sociológica e filosofa. Ela diz assim:

quando a vida das mulheres negras realmente tiver importância o mundo será transformado.

Você Sidilene, mulher negra, você se acha mais vulnerável ao preconceito racial?

Eu me acho. E é por isso que a voz da mulher negra precisa começar a aparecer, é necessário valoriza está voz mais um pouco. Porque a gente aprendeu a ser um pouco mais agressiva para dar conta de tudo isso.

Uma mulher negra é conhecida por saber dançar, se uma mulher negra não sabe dançar, as pessoas falam: “como não sabe dançar?” Tem que ter o samba no pé. Tem que ter “corpo violão”. Eles olham para a gente e pensam “globeleza” ou a empregada doméstica. E isso precisa mudar. Existem mulheres negras que não tem o samba no pé e existem mulheres negras que tem outros conteúdos.

É um desafio você explicar que o osso da negra pesa mais que o osso da branca, as mulheres negras se assustam. Até elas entenderem que uma negra é linda da maneira que ela é independente do tamanho dela é um processo demorado que busco no atendimento como nutricionista. É algo que tenho que desconstruir o tempo todo no consultório.

Acho que a mulher negra precisa entender o espaço em que ela ocupa. Eu por exemplo tenho três irmãs. A minha irmã caçula é casada com um rapaz branco e ela tem dois filhos de pele clara. Ela mora em um condomínio na zona sul de São Paulo. Certo dia ela estava tomando sol no parquinho com as crianças e perguntaram se ela era babá das próprias filhas… Ela disse que eram os filhos dela, mas esta senhora, que fez esta pergunta horrível, foi insistiu no questionamento se ela era babá das crianças. Então minha irmã disse assim: “então, se a senhora insistir com essa história e vou na delegacia com a senhora. O que te incomoda? Eu ser negra e ter dois filhos lindos ou eu ser negra e morar no mesmo condomínio que a senhora?” É importante para a mulher negra entender a importância do local que ela ocupa.

Você sente falta de, na sua infância, a ausência de símbolos de mulheres negras nas mídias?

Na minha infância, a minha mãe conseguiu ser esse símbolo muito bem. Nós somos três mulheres, somos fortes. Na minha família, temos índios, italianos e negros, e por termos traços mais afinados, pelo cabelo não ser tão crespo, eu ouço: “até parece que você não é negra”. As pessoas falam isto para mim. A minha mãe trabalhou isto muito bem na gente: “você é importante do jeito que é…”. Ela dizia: “você precisa estudar, você precisa buscar o melhor para você e as pessoas precisam respeitar você como ser humano. 

Quando você fizer qualquer trabalho, você precisa fazer o melhor que você pode, independente se é limpando uma casa, limpando um chão, fazendo uma comida, ou atendendo um paciente”. Eu sinto falta de ter referência externa, mas eu tive referência dentro daminha casa que foi a minha mãe. Então para a gente isso foi muito forte, foi muito embasado em casa. A gentefoi para colégio interno e a gente conseguimos nos sair muito bem. 

Meus amigos me chamam de ‘nega’, ‘neguinha’ e é ótimo. Adoro receber este carinho. Quando me chamam de ‘minha nega’ eu respondo ‘oi, tudo bem?’ e o quanto é gostoso escutar ‘nega (negra)’, eu gosto muito e gosto que me chamem de ‘nega’ mesmo. Mas para isto, minha criação fez diferença. E eu sintoque eu preciso ser uma tia forte porque os meus sobrinhos estão crescendo. E quem sabe o racismo não vá mudar? A gente precisa ter esperança. 

O quanto que empoderar a minha sobrinha é importante. Ela tem o cabelo crespo, que é lindo e maravilhoso, e que a cor da pele faz parte, que a estrutura dela é linda e que ela é uma princesa e ela é linda. Ela tinha dois anos quando eu falava para ela: ‘você é negra sim. O seu cabelo é crespo sim. Mas você élinda. E eu já vou te falar isso porque quando alguém falar o oposto, você vai devolver que é meu cabelo é crespo sim e é lindo. E eu faço questão de repetir isso para eles, todos eles, todos os dias para que isto seja fortalecido. Ser negro não importa e não deveria mudar nada. Os meus amigos não me tratam diferente porque eu sou negra. 

Não precisamos, obviamente, sermos negro para lutar contra o racismo, embora o negro tenha um lugar de fala muito maior, muito importante e muito bom para poder discutir este assunto. Quanto que a segregação racial é prejudicial à sociedade e, pior: o quanto que o sexismo é pior. Ele piora mais a situação. Imagina esta separação que é feita, você negro, que tem um pele que chama atenção onde você vai, e você ainda é mulher. A sociedade é machista, a sociedade é racista e você carrega este contexto todo e a gente precisa lutar contra este contexto todo. A gente precisa ensinar as pessoas verem de outra forma, de olhos de dentro da gente.

Você como negra, o que você diria para os brancos que querem lutar contra o racismo, que querem lutar pelo direito dos negros. O que você falaria para esses brancos?

Eu acho que a união faz a força. Eu acho que vale a pena insistir nisto, pois existem pessoas brancas que defendem o negro e lutam por isto e que continuem lutando. Para esse movimento fortalecer e para que isto mude. 

E para o negro que quer lutar contra o racismo, o que você diria?

Não abaixa a cabeça, levanta a cara. É libertador quando você consegue falar, mesmo que sendo agressivo, mas é libertador. Eu já sofri vários assédios e dá um medo. O fato é que as pessoas são extremamente desrespeitosas e maldosas. Eu falo para o “negro”: não abaixa a cabeça, se coloca no lugar no lugar em que você tem de se colocar. Hoje a gente tem que abrir a boca sim, tem que denunciar sim, tem que levar para frente sim. Porque as pessoas precisam começar a respeitar a gente. Já passou da hora. A minha irmã sofreu preconceito quando estava grávida e passeava no shopping. Ela me ligou chorando. Eu disse “eu estou indo te buscar agora”. E eu chorei junto com ela porque eu achei de tamanha maldade, tamanho desrespeito. Uma gestante linda e maravilhosa e negra ser maltratada. Isso para mim, na fase em que ela estava foi difícil, eu chorei junto com ela. Eu disse para ela, ‘por que você não chamou a polícia?’. Ela me respondeu: “eu não consegui, foi tão agressivo que eu não conseguia nem me mexer’. É isso que acontece com a gente. É tão forte o racismo que você fica paralisado. 

Não abaixa a cabeça, levanta a cara.

Uma coisa que, como negra, eu falo sempre é não se sentir inferior a ninguém. Cada um tem um espaço, o sol nasce para todo mundo e estamos todos no mesmo lugar. Em nível de pessoas e estrutura. As pessoas que precisam respeitar a gente. Eu lembro que na minha faculdade eram apenas duas negras em minha sala. E não dá para calar. Negro não pode calar diante dos fatos e também acho que não pode ficar chorando, se lamentando. A gente tem de se empoderar e viver feliz mesmo que, infelizmente, as pessoas se preocupam com a nossa alegria e com o nosso jeito de ser. Precisamos ser fortes e buscar sim apoio. 

Eu gostaria de terminar esta entrevista com a frase do pastor Martin Luther King Jr. falada no dia 28 de agosto de 1963 nos degraus do Lincoln Memorial em Washington, D.C.  em frente a uma plateia de mais de duzentas mil pessoas. Estas palavras estão presentes no famoso discurso “I have a dream – Eu tenho um sonho” que se eternizou como um dos maiores e mais belos discursos da história dos Estados Unidos. Martin Luther King expressou:

Eu tenho um sonho que meus quatro pequenos filhos um dia viverão em uma nação onde não serão julgados pela cor da pele, mas pelo conteúdo do seu caráter.

Sidilene, quais sãos suas palavras finais?

Eu comecei falando com amor e eu finalizo com o amor. Quando a gente tiver amor, respeito, empatia e se colocar no lugar do outro, independente da cor da pele, do tamanho, do sexo ou do gênero, com certeza iremos ser melhores um com os outros aqui na terra. E que o nosso brilho nos olhos influencie à outros. Que as nossas palavras e atitudes influenciem também. Então, que haja mais amor e que esse amor comece em mim. 

Se você quiser assistir o vídeo desse bate papo segue o link abaixo:

Amor na Quarentena

Vamos começar este texto com um questionamento: vale a pena acreditar no amor mesmo em época de pandemia? 

Talvez você já esteja desiludido(a) com o amor, ou até mesmo achando que você tem algum defeito e que nunca vai conseguir encontrar o “grande amor da sua vida”. Esses e outros questionamentos chegam a ser angustiantes para alguns.

Esses dias eu recebi a seguinte mensagem de uma seguidora, que mostra o quanto o sofrimento por causa do amor é intenso e pode causar problemas para a saúde mental de um indivíduo. Vou compartilhar com vocês:  

“Olá doutor, gostaria muito de entender se tenho algum problema. Não dou certo em nenhum dos relacionamentos que já tentei. Tenho 34 anos, já fui casada e tive alguns namoros, mas tudo sempre acaba pelo mesmo motivo. Acho que o problema está comigo, devo ter algum defeito. To começando a ter dificuldades de mostrar amor e me tornando uma pessoa fechada. Acho que estou deixando de acreditar no amor…”.

Ela me conta outros detalhes, mas eu queria me atentar a dois pontos neste relato:

  • Ela está colocando em dúvida a existência do amor.
  • Ela acha que o problema está nela.

Fiquei imaginando o sofrimento que esta moça está passando e que pode representar o sofrimento que muitos também estão vivendo. E lógico que, quando chega o dia dos namorados, essa sensação de inadequação pode ficar pior e até deprimir uma pessoa.

Aqui é necessário contextualizarmos o dia dos namorados no Brasil uma data comemorativa de origem comercial – capitalista em essência. A ideia de criar esta data veio do publicitário João Dória, pai do atual governador do estado de São Paulo João Dória Jr.. Ela deveria ser como outras datas, como o dia das mães e pais, um dia para troca de presentes e assim movimentar a economia no mês de junho, que era um mês fraco para o comercio varejista. 

A data de 12 de junho foi escolhida por ser véspera da celebração do dia de Santo Antônio, popularmente conhecido como santo casamenteiro. O dia dos namorados brasileiro começou a ser celebrado em 1948 na capital paulista e no ano seguinte já se alastrou pelo país a fora.

Hoje, está data já é a terceira em faturamento para o comércio – ficando atrás do Natal e do dia das Mães. Percebam que o tema “amor” está por detrás dos três principais faturamentos para o comércio no país. E aqui já podemos perceber o quão lucrativo é para o sistema capitalista fazer com que você não passe o dia dos namorados sozinho ou mesmo que se mantenha em um relacionamento ruim.

Mas voltando aos dois pontos que separei da mensagem da nossa seguidora, vamos ao primeiro ponto:

  • Ela está colocando em dúvida a existência do amor

E você, acredita no amor? Ou também está como ela já desacreditando? O que é o amor para você?

Se você acha que “o amor não é uma pontada no peito que aperta, te sufoca e faz suspirar… o nome disso é infarto agudo do miocárdio” – o amor é outra coisa...
“Amor também não é uma sensação de formigamento na qual as pernas ficam bambas e você perde as forças, o nome disso é derrame cerebral” – o amor é outra coisa...
“Amor não é algo que te faz perder o ar, ficar de boca aberta e mal conseguir respirar, o nome disso é bronquite asmática” – o amor é outra coisa…

Então o que é o amor? 

Vamos tecer nossa discussão, utilizando como base o legado teórico deixado por duas grandes figuras da história humana C.S. Lewis e Sigmund Freud. 

Para responder o primeiro ponto da mensagem da nossa seguidora, no qual ela coloca em dúvida a existência do amor, vou a definição de amor proposta por C.S Lewis.

Ele foi um professor na universidade de Oxford e Cambridge e grande escritor britânico, um teólogo e autor de diversos livros e textos, entre eles as Crônicas de Nárnia, Cristianismo Puro e Simples e entre outros. Que inclusive recomento muito a leitura. 

Vamos utilizar o conceito que ele aborda sobre o amor no livro: “Os Quatro Amores” no qual Lewis descreve a existência de quatro tipos de amores (seguindo a tradição grega):

  • Afeição, a forma mais básica de amar; 
  • Amizade, considerada a mais rara; 
  • Eros, o amor apaixonado;  
  • Caridade, o maior e menos egoísta deles.

Neste texto, vamos fixar nossa discussão na caracterização do amor Eros – romântico – que envolve os apaixonados.

Vamos analisar uma passagem bem conhecida do livro: 

“O simples fato de se amar é uma vulnerabilidade. Ame alguma coisa e seu coração certamente ficará apertado e possivelmente partido. Se quiser ter certeza de que seu coração ficará intacto, não deve oferece-lo a ninguém, nem mesmo a um animal. Use passatempos e pequenos luxos para envolvê-lo cuidadosamente; evite todas complicações; tranque-o de forma segura no caixão de seu egoísmo.”

C.S. Lewis – Os Quatro Amores

Vemos que Lewis dá pistas sobre o que é amor, ou melhor, como viver o amor na prática.

Primeiramente ele demonstra que a possibilidade do amor existe na premissa da vulnerabilidade. Ele diz: “O simples fato de amar é uma vulnerabilidade.”. O amor só é possível quando baixamos a guarda e possibilitamos nossa entrega e ao mesmo tempo o receber do outro. 

Com portas fechadas não há possibilidade de visitas ao coração. Não podemos ter vergonha dos móveis, das plantas e das paredes da nossa casa do coração. Estar vulnerável é se abrir para o outro estando confortáveis com o nosso eu, com o que somos. Ou seja, precisamos estar bem com nós mesmos para nos abrirmos para uma relação com o outro. 

Baseando nisto, concluímos que o amor existe. Ele pode ser visto nas suas diversas formas, mas é nosso comportamento com relação ao objeto em que depositamos afeto que realmente vai ditar a saúde emocional desse amor.

Muitos há que reclamam de estarem sozinhos ou que seus relacionamentos não duram, como nossa amiga em sua mensagem para mim.  Mas, eu pergunto, será que estão dispostos a se tornarem totalmente vulneráveis? Será que os medos, inseguranças ou traumas do passado os impedem de vivenciar o amor? Será que existe um “dedo podre” que no faz escolher sempre errado?

Neste ponto, vamos discutir o segundo ponto que separei da mensagem da nossa seguidora:

  • Ela acha que o problema está nela.

E para isso vamos usar a definição de amor que o pai da Psicanálise nos presenteou. Talvez a grande a revelação de Freud para a humanidade seja para entendermos nosso “dedo podre…”.

Para Sigmund Freud, em seus estudos sobre a mente e o comportamento humano, existem dois tipos de amor:

  • o amor genital (sexual);
  • o amor inibido ou afeição.

O amor seria resultado do investimento pulsional que fazemos no objeto/sujeito. O amor genital seria aquele une indivíduos e que mantém um conteúdo consciente de desejo sexual.

Somado a essas definições de amor, Freud deu importante contribuição para o entendimento de como nosso passado afeta nossas relações atuais quando ele construiu a teoria da transferência. 

Nesta ele evidência que os sentimentos envolvidos nos relacionamentos correm em mão-dupla. Há uma parte na qual projetamos sobre o outro e uma parte que é projetada do outro sobre nós.

Freud percebeu que nós reagimos e nos relacionamos com uma pessoa não somente com base em como experimentamos a pessoa conscientemente, mas, também, com base na nossa experiência inconsciente tendo como modelo nossos relacionamentos do passado. 

Trazemos um relatório de coisas positivas e negativas das relações afetivas que vivenciamos desde que nascemos até a idade em que estamos. Estas informações ficam no nosso inconsciente e esse relatório afeta nossas escolhas no presente.

Esse processo pode influenciar, em níveis variados, a nossa escolha de amigos, namorados(as) e maridos/esposas.

Você já deve ter se perguntando por que um rapaz, no meio da balada, com várias opções de escolha, escolhe um mesmo padrão de sujeito, com até características físicas semelhantes aos que ele já escolheu em outras vezes? Gosto pessoal? Freud nos diz que é muito mais que isto.

Várias vezes no consultório eu já perguntei: 

“Você não acha que você está escolhendo com um mesmo padrão? Não são os mesmos tipos de aparência, cor de cabelos entre outras características? Você vê semelhanças entre seus exs e seu atual?

E quão espantados/espantadas ficam os pacientes ao perceberem que seguem um padrão muitas vezes inconsciente de escolha. Deste modo, podemos dizer que o “dedo podre” existe e tem origem lá na nossa infância e cresce sendo adubado pelos tipos de interações interpessoais que construímos na nossa vida.

Então, respondendo o segundo questionamento da nossa amiga que acha que o problema está nela, sim, ele está nela.

Isto não invalida a responsabilidade do outro com os afetos dela. Se um cara resolve brincar com os sentimentos dela, isto mostra uma perversidade afetiva nele. Porém saber que boa parte do problema está com ela lhe torna poderosa o suficiente para poder resolve-lo. Além de empoderar ela para que seja livre para não escolher um sejeito assim novamente.

Então como melhorar um “dedo podre”? Podemos curá-lo?      

A forma de arrumar isto seria fazendo terapia, procurando nos entender. Também passa por fortalecer nossa autoestima – nosso amor próprio. De igual modo, é olhar para nosso passado e perceber como ele tem influenciado nossas relações presentes.

Mas a esta altura você deve estar dizendo: “Doutor,  e o que tem haver tudo isso com a quarentena/pandemia?”

Bom, até aqui vimos que tanto Lewis quanto Freud nos mostraram que o amor romântico é baseado na troca de afetos. O isolamento social tem nos mantido distantes dos nossos amores ou dos locais que comumente procurávamos um relacionamentos.

Embora o amor possa acontecer em qualquer lugar, da fila do supermercado a uma voltinha no parque, neste momento muitos têm buscado parceiros em apps de relacionamento. 

Estes apps podem ser comparados a um açougue no qual você chega, escolhe a melhor carne e pede pra embalar para comer depois em casa. Você pode dar sorte de comprar uma boa carne só pela aparência. Mas também você corre o risco de ser enganado pelo açougueiro, pagar por uma carne de primeira e ao ir quando for degustar a carne perceber que é uma carne de segunda, dura e ruim para se mastigar.

Tudo bem que este é um risco que temos em relacionamentos que se iniciam no mundo real. Mas a chance de ser iludido neste tipo de relação virtual é maior. 

Lembrando da teoria de Freud, na nossa transferência, projetamos no outro desejos e necessidades que são nossas, que partem de nossos relatórios inconscientes. Numa relação sempre há o risco de ser decepcionado, de termos o coração partido, tal como lemos no trecho de “Os Quatro Amores de C.S. Lewis”: 

“Ame alguma coisa e seu coração certamente ficará apertado e possivelmente partido.”

C.S Lewis – Os Quatro Amores

Quando avaliamos a possibilidade de decepção em relações que permanecem no virtual, percebemos que a todo momento o investimento libidinal é feito no território da projeção. E isto deixa os indivíduos nela envolvidos mais vulneráveis que o normal.

Então podemos dizer que é pior ter relações advindas de aplicativos de relacionamento? Não, pelo contrário, seriamos muito imprudentes ao afirmar isto. 

Faz muito pouco tempo que este tipo de encontro afetivo começou. Como vimos, nosso conteúdo inconsciente advém de relações reais e não virtuais. Talvez precisemos realinhar nosso conhecimento e nos preparar melhor para perceber a possíveis enrascadas afetivas em que estamos nos envolvendo no mundo virtual.

Contudo uma coisa é certa, em algum momento essa relação tem que vir para o mundo real. Ela tem que se materializar em forma de beijo, toque, cheiro e contato sexual íntimo.

Vamos finalizar deixando dois questionamentos para refletirmos sobre a busca de parceiros afetivos:

1 – Será que todos temos a obrigação de estar com alguém? De onde vem essa regra que a todo custo você tem que se relacionar ou mesmo se manter em relações abusivas só para não ficar sozinho?
2 – Nossos mapas de vida são capazes de reconhecer e atuar de forma clara para nos impedir de entrar em um relacionamento furada – será que eles não favorecem nosso “dedo podre”?

Sobre o primeiro ponto, a necessidade de estar com alguém e a solidão, vou deixar aqui uma frase de C.S. Lewis:

“Se tudo o que entendemos por amor é a ânsia de sermos amados, nossa condição é deplorável.”

C.S. Lewis – Os Quatro Amores

Essa necessidade que alguns possuem de procurar um relacionamento a qualquer custo não é saudável. Seja por carência afetiva, seja por ser fruto de uma criação machista ou até mesmo uma baixa autoestima; vários são os motivos podem levar um indivíduo a buscar inconsequentemente um relacionamento. “Antes só do que mal acompanhado” é um excelente ditado da sabedoria popular.

Sobre o segundo ponto, temos que a tecnologia nos deu esta possibilidade, mas ainda estamos engatinhando na capacidade de lidar com ela de forma madura. Ainda vamos percorrer um longo caminho até conseguirmos atualizar nossos mapas de vida para sermos mais hábeis em escapar de parceiros errados nestes apps.

Contudo, nada poderá melhorar se você não cuidar de você. Por isso eu te convido a ter uma escolha inteligente. Antes de emendar no seu próximo relacionamento, inicie um relacionamento íntimo com você. Desenvolva amor próprio e se for preciso procure ajuda terapêutica. Não cabe, em pleno século XXI, preconceito com os cuidados com sua saúde mental. 

Vale a pena acreditar no amor mesmo em época de pandemia?

Vale! Se você começar primeiro se amando, já que a chance de viver um amor saudável com alguém será muito grande.

Pornografia na Quarentena

Bom, vamos começar este artigo definindo o que é pornografia:

  • Pornografia: substantivo feminino – Origem etimológica: porn(o)- + -grafia
    1. coleção de pinturas ou gravuras obscenas.
    2. característica do que fere o pudor (numa publicação, num filme etc.); obscenidade, indecência, licenciosidade.
    3. qualquer coisa feita com o intuito de ser pornográfico, de explorar o sexo tratado de maneira chula, como atrativo (p.ex., revistas, fotografias, filmes etc.).
    4. violação ao pudor, ao recato, à reserva, socialmente exigidos em matéria sexual; indecência, libertinagem, imoralidade.

Então quer dizer que estátua do David de Michelângelo é pornografia? Depende, se o intuito da obra na época que foi desenvolvida era ferir a moralidade, sim. Caso contrário, não.

Davi de Michelangelo

O que vemos aqui é que a pornografia tem relação direta com o tempo e a sociedade em que é produzida. Se você voltasse à Grécia antiga, corpos e esculturas com os “peitos de fora” não tinham conotação erótica sexual e representavam fertilidade e atributos da maternidade. 

Já no Japão atual, há uma cada vez mais popular forma de erotismo, o se fantasiar de boneca. Lá existem bares especializados nesse tipo de fetichismo. E fantasias desse tipo são verdadeiras febres eróticas nas lojas especializadas no assunto. 

Mas voltando pra nossa cultura, todos nós em algum momento já fomos expostos a pornografia, seja ela explícita ou em forma de softporn (pornografia não tão explicita) que cada vez mais se alastram pela web. A indústria pornográfica é um ramo muito lucrativo uma vez que seus clientes literalmente ficam viciados! E em época de quarentena ela se tornou mais atrativa ainda. 

Dados revelados pelo site PornHub, uma das principais plataformas de vídeos adultos do mundo, apontam que os acessos chegaram a crescer 28,9% no Brasil em relação à média diária, no último dia 29 de março. No índice mundial, o crescimento foi de 24,4%, segundo dados do próprio site. 

O que poderia explicar isso? O isolamento social está mexendo com a cabeça das pessoas? Ou era algo que já vinha acontecendo e só ficou mais frequente?Vamos discutir algumas possibilidades.  

Primeiramente, que em momentos de crise tendemos a voltar a agir de forma mais animalesca, mais instintiva. 

O sociólogo Richard Miskolci, relata que nesses momentos catastróficos apresentamos um comportamento que ele caracteriza como:

… uma necessidade de ser desejado, amado, confortado em tempos de incerteza e solidão que nos fragiliza e nos faz sentir mais vulneráveis, inclusive em termos afetivos. 

E aqui precisamos entender que crise – seja ela uma guerra, uma catástrofe ambiental ou uma epidemia – vai sempre despertar em nós os desejos mais primitivos. Nestes momentos vamos retroceder a fases mais iniciais da nossa vida. Nos quais os impulsos surgem e nossa capacidade de controlá-los diminui bruscamente. Na crise nosso corpo clama por prazer, comida e sono basicamente…

Quem nunca ouviu sobre os estupros causados pelos soldados após as batalhas. Atos que muitos nunca fizeram ou fariam de novo e que depois ficam como traumas que precisam de tratamento psicológico. 

De onde veio essa pulsão, esse desejo sexual que não foi controlado e acabou sendo expressado de forma tão violenta? Eles fizeram isso por pura maldade e perversidade ou existe algo mais? Por que este não é um comportamento comum a soldados fora das guerras? Justamente porque fora das crises nós aprendemos a sublimar nossos desejos, nossas pulsões. 

Aprendemos a não satisfazer todas a necessidades corporais. Controlamos o desejo alimentar, o sono entre outros impulsos do corpo. Também reconhecemos que ninguém pode tudo e nem tudo pode ser feito…

Isto acontece pois desenvolvemos um mecanismo que chamado sublimação. 

Para a psicanálise a sublimação é a capacidade de transformar nossos impulsos primordiais, nossos desejos mais instintivos e ligados basicamente a obtenção de prazer e sobrevivência imediata em capacidades mais desenvolvidas e que permitem a vida em sociedade.

Freud definiu sublimação como o processo de dar uma forma mais madura aos instintos sexuais transformando-os em atos de maior valor social. Ele diz em Um Mal Estar na Civilização, que a sublimação é:

[..] uma característica especialmente notável do desenvolvimento cultural; [esta] é o que possibilita que atividades psíquicas superiores, científicas, artísticas ou ideológicas, desempenhem um papel tão importante.

Em outras palavras, dar uma vazão sublimada ao impulso sexual é o que possibilita nosso progresso enquanto sociedade. No caminho contrário temos a dominação pelos insistimos sexuais que leva a diminuição da capacidade criativa, científica e de raciocínio crítico. 

No tédio causado pelo estresse do confinamento social e da pandemia o consumo de pornografia é uma forma de aliviar essa energia acumulada. Porém, nossa sociedade já vinha sofrendo com uma baixa uma baixa capacidade de sublimação muito antes da crise do corona vírus. E agora, nesse momento de pandemia, fica mais difícil para indivíduo perceber que tipo de motivação o está levando a procurar a pornografia. É a necessidade de prazer como um adulto ou como uma criança? 

E a masturbação é a principal forma de manejar e alcançar este prazer.

Lembrando que masturbação é:

…a manipulação dos órgãos genitais com intuito de obtenção de prazer, visando ou não ao orgasmo.

Voltando a discutir sobre pornografia e a pandemia vemos que avaliando a sociedade atual, mesmo antes da epidemia de covid-19, nós já vínhamos desenvolvendo uma baixa capacidade de lidar com a frustração e aceitar os limites. Nossa capacidade de sublimar está cada vez menor. Não entendemos que limites são libertadores. 

Talvez isso seja uma parte difícil de compreender: “o limite é libertador”. O “não poder” abre novas possibilidades, ele desafia a nós mesmos a nos reinventarmos. 

Boa parte dessa não aceitação, esse estado de inadequação coletiva, vem da indústria capitalista que busca indivíduos socialmente frustrados em suas pulsões e que queiram satisfaze-las de forma rápida e instantânea. Elas dizem a todo momento, se conecte as suas necessidades, não importa quais sejam, e deem vazão a elas, não importando de que forma seja… 

Mas será que isso é benéfico para o indivíduo?

Neste ponto, a masturbação e o vício em pornografia são uma evidência clara disto: “você está em casa com muito tédio, seu celular pode te “satisfazer”, é só você acessar um conteúdo pornô e gozar…”. 

Mas não é um deleite integral e nunca será. Não há satisfação libidinal completa sem compartilhar o jogo erótico físico/sensorial com o outro. 

Embora alguns especialistas na área apresentem opiniões divergentes, para a maioria fica claro que o consumo de pornografia e a masturbação são uma manifestação infantil da pulsão sexual. 

Um adulto que tem como única forma de obtenção de gozo a masturbação é como se ele usasse chupeta/bico ainda na rua. Você estranharia muito ver um adulto de chupeta e de terno e gravata.

Isto ocorre pois esperamos que adultos consigam ter domínio próprio e lidar melhor com as frustrações e venham a manifestar sua sexualidade de forma plena em um relacionamento com intimidade, contato físico e troca de afetos.

Mas, como já falei antes, a crise que estamos vivendo faz com que voltemos a ter impulsos e desejos primitivos. 

Discutir isso agora seria parte de um processo de aprimoramento de nossas sexualidades. E também acredito que esta crise nos dá espaço para nos reinventarmos. Ela nos limitou em nosso ir e vir mas também nos permite entrar em contato com nosso eu de forma mais plena.

Bom, e para finalizar gostaria de deixar 3 pontos chaves para reflexão:

- Onde você tem passado a maior parte do seu tempo, no real ou no virtual? 

- Você é dominado pelos seus impulsos ou consegue controla-los? (sejam eles de comprar, comer, beber, masturbar-se, entre outros…). 

- Você está viciado em pornografia?

E lógico se você refletiu nestes pontos e acha que precisa evoluir em algum deles, te aconselho a fazer terapia com um bom psicologo/ psicanalista ou procurar ajuda psiquiátrica médica relevante.

Finalizando vou deixar como dica um vídeo aqui, muito legal, que fala sobre como a pornografia age no cérebro e o como esse vício não é nada diferente do vício em drogas, álcool ou outros tipos. Chama-se The Great Porn Experiment – Gary Wilson – entre no vídeo e ative a legenda em português.

Além disso gostaria muito que você lesse o artigo no blog da boitempo –  Sexo em Tempos de Coronavírus –  Slavoj Žižek – o link segue abaixo.

É isto, espero que vocês tenham curtido este assunto. Se você tiver alguma dúvida pode me enviar na caixa de contatos e podemos conversar mais sobre o assunto.

Me Amar É…

Esses dias me peguei refletindo sobre por que damos tanto errado no amor ao próximo? Por que tantos relacionamentos não dão certo? Por que parece que o amor das pessoas pelo próximo se acabou?

Uma das conclusões a que cheguei foi que não se pode dar aquilo que não se tem. Se eu não me amo eu não tenho condições de amar em plenitude ã alguém.

Dessa forma resolvi refletir sobre o amor baseando-me em uma linda música do grupo Legião Urbana – Monte Castelo. O compositor da letra, Renato Russo, se baseou em dois grandes textos sobre o amor. O primeiro foi um soneto de Luís de Camões(1524 – 1580), poeta português  que lemos abaixo:

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
 
É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder.
 
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.
 
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Mas nesse momento vamos usar o texto da música do Legião Urbana que  popularizou este poema e o texto bíblico de 1 coríntios 13 para retratar o amor no sentido de amor próprio… Amor por si mesmo.

Eu separei alguns fragmentos que gostaria de discutir tendo em vista o amor citado na música como o ideal de amor próprio.

“O amor é bom, não quer o mal…” fazendo a releitura “O amor [próprio] é bom, não quer o mal [para si mesmo] … 

Quantas escolhas fazemos para nós mesmos que são péssimas. Algumas destas até são involuntárias, mas outras nós bem sentimos que não deveríamos ter feito, mas silenciamos essa voz de alerta e fazemos. 

Ao me amar de verdade eu tento escolher coisas boas para mim. Eu presto atenção em como me alimento, no tipo de bebida que ingiro e até mesmo no tipo de informação que eu busco. Quando eu me amo profundamente eu não me mantenho em relacionamentos abusivos e nem permito que outros tenham poder sobre mim de me machucar.

Amar a si mesmo em profundidade é querer o melhor para si e isso não tem nada a ver com egoísmo. Até porque o egoísta tem uma noção de amor próprio tão prejudicada que se vê tão destituído de valor que necessita que tudo e todos girem ao seu redor e ajam em sua função. E isso não é amor próprio verdadeiro.

O próximo trecho diz: “Não sente inveja…”. Quando eu me amo profundamente, quando meu valor próprio está preservado eu não tenho um olhar de desejo sobre o que o outro tem. O invejoso tem uma autoestima tão baixa que vive vendo valor nas coisas do outro e não nas que possui e por isso inveja a vida alheia. O invejoso que viver a vida do outro. Ele pode até conquistar as coisas invejadas, mas estas não lhe trarão satisfação pois ele não se sentirá completo com elas…

A múscia continuar: “[o amor próprio não] “…se envaidece…”.

Quando eu me amo em profundidade eu não enxergo valor naquilo que ostento. Eu não preciso ser uma árvore de natal cheia de joias, relógios, carros e outras coisas para mostrar aos outros meu valor, uma vez que meu valor está naquilo que sou. O amor próprio enxerga valor em qualidade intrínsecas e profundas como suas habilidades, seu caráter integro e “no que você é…”. 

E aqui é uma parte difícil, o que você é? Não estou falando de profissão, de papel social, de ser pai/mãe ou algo assim, mas o que você é quando deita e fica sozinho a noite no quarto no escuro? Essa pessoa que você vê ali é digna de amor? Você consegue amar ela? Se você nem reconhece quem é esta pessoa ou consegue amar ela, talvez seu amor próprio esteja bem prejudicado. 

Neste ponto, não sermos vaidosos, na sociedade capitalista atual talvez seja muito complicado. Tudo que ela faz é para quebrar nosso amor próprio e colocar valor naquilo que podemos compra, naquilo que nosso dinheiro pode adquirir. Quanto mais você tem, quanto mais você ostenta, quanto mais você compra, mais valor você tem para a indústria capitalista. Porém nesta mesma proporção seu valor próprio se esvai…

Estudos mostram que pessoas que postam muitos “selfs” nas redes sociais na verdade possuem baixa autoestima. Outras pesquisas demonstram que o excesso de valorização da aparência física e do corpo também está presente em pessoas com pouco amor próprio. 

Quando eu desenvolvo o amor próprio em quantidade suficiente eu não preciso me envaidecer. Mas isso não é justificativa para não se cuidar e não buscar ter um corpo saudável, não querer se vestir bem. Lembre-se é o excesso que marca o patológico, nem oito nem oitenta

O próximo trecho é:

“O amor é o fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente…”

Aqui aproveito para fazer uma crítica aos “coaches” e “digital influencers”. É incrível como neles o discurso de “eu consegui…”, “eu me amo…”, “eu não desisti…”, “eu isso… eu aquilo…” é um constante. É a famosa meritocracia. Óbvio que existem exceções, mas quem se ama de verdade não precisa ficar dizendo isso aos quatros ventos. E nem dizer que é por causa do tanto que se ama que ele conquistou o que queria. O amor é silencioso, ele não faz escândalo.

Na nossa geração chega a ser comum um post de uma “self” no Instagram® com uma legenda: “eu me amo mais que tudo…”, “ser feliz é conquistar o que se quer…”, será? Será mesmo que uma pessoa que se ama precisa colocar isso para julgamento de outros com curtidas e likes? E aguardar que outros validem seu amor próprio.

O poeta já dizia, amor “é fogo que arde sem se ver…”, quando menos esperamos o amor próprio já está dando frutos. E nem percebemos pois estes nascem naturalmente e não são pendurados como enfeites de natal numa árvore…

Quando eu me amo de verdade eu não preciso ficar dizendo e nem repetindo isso…

A música continua e tem outras partes igualmente lindas. Mas para não prolongar muito eu vou me atentar ao trecho que finaliza a música e que abre o texto bíblico. Vamos ler na versão da Bíblia A Mensagem…

“Se eu falar com eloquência humana e com êxtase própria dos anjos e não tiver amor, não passarei do rangido de uma porta enferrujada. 1 Coríntios 13:1 - MSG

O seja, se eu tive um lindo discurso e ser encantador como a voz de um anjo, mas se não tiver amor eu nada sou…

Sem amor próprio eu nada sou… Por isto, talvez estejamos passando por tanto sofrimento mental nos dias atuais. Quem sabe seja por isso que tantas pessoas estejam entrando em depressão ou pensando em desistir da vida. Talvez seja por isso que vemos tantas pessoas que não conseguem demonstrar empatia e consideração. O amor de muitos está ausente pois o amor próprio se esfriou. Se não me amo não sou capaz de amar alguém.

Uma das causas disso, volto a dizer, é o capitalismo nos pisoteia em nosso amor próprio ditando o tipo de corpo, de roupa, de carro e de vida que temos que ter… E quando não alcançamos nos sentimos os piores. O capital vive de dizer que você está inadequado, que seu corpo está ruim, que você não atingiu um padrão satisfatório justamente para que você possa gastar dinheiro buscando valor no externo. Investindo nas aparências…

As redes sociais nos massacram diariamente com a vida “linda e cheia de felizes para sempre…” das pessoas. Nunca o ditado “a grama do vizinho sempre é mais verde” fez tanto sentido. Mas se a grama de esta mais verde é só você cuidar da sua que ela também vai ficar verde, do seu jeito, mas vai. 

E não podemos esquecer da religião tóxica que existe para dizer que “devemos pensar sempre nos outros”,  “sempre aceitar tudo que o outro nos faça” e até mesmo nos aconselham a permanecer “em relacionamentos abusivos que só nos destroem pois se você ama de verdade você tudo suporta…”. Tal teologia intoxicante é facilmente explicável uma vez que menos amor próprio menos pensamento crítico. Desse modo as pessoas são mais facilmente manipuláveis e se tornam mais vulneráveis ao controle dos lideres religiosos… Só que estes mesmos esquecem que na Bíblia está escrito em forma de regra de vida: “amar a si mesmo e ao próximo na mesma…”. Não está dizendo ame mais o outro e a você menos.

Vendo assim, nesse contexto amplo vivemos numa época na qual nunca foi tão difícil se amar. Mas a música Monte Castelo já dizia: “…Sem amor [próprio], eu nada seria…”.

Sem amor por mim mesmo eu nada sou… Vou repetir, sem amor por mim mesmo eu nada sou…

Por isto cuide: do seu corpo, da sua mente, do que você come, com quem você divide seus sentimentos e com quem você compartilha sua intimidade

Se ame mais pois sem amor você não é nada…

O Poder da Música no Combate ao Covid-19

Não duvide do refrão popular que indica que “quem canta seu males espanta”. 

Será q a música pode nos ajudar a enfrentar o corona vírus? 

Será q ela pode aumentar nossa imunidade? 

É possível que a música diminua nosso estresse nesse momento?

Quem não tem uma trilha sonora de filmes inesquecível? Ou aquele jingle de propaganda que nunca fez você esquecer de um produto? A música que marca seu relacionamento?

Os efeitos positivos de escutar música são conhecidos há muito tempo. 

Já na época dos grandes filósofos cantavam-se odes musicais para aliviar a tensão. Nas guerras empregavam-se certas canções ou hinos para desenvolver a coragem e a confiança nos soldados. Usavam-se tambores graves q impulsionavam o ritmo da marcha… 

Hoje já se tem comprovado que, com a repetição de partes musicais, podemos:

  • Aprender idiomas e fomentar a criatividade;
  • Tratar doenças neurológicas como, por exemplo, o mal de Alzheimer, o Parkinson e o autismo;
  • Melhorar certos transtornos emocionais: tais como a ansiedade, a tristeza, a baixa autoestima entre outros…

Um estudo conduzido por Robert Zatorre e Salimpoor Valorie, pesquisadores da Universidade de McGill, em Montreal, concluiu que o ato de escutar música pode dar prazer a partir da liberação rápida de dopamina. 

Esse estudo publicado na Nature Neuroscience, com jovens, de 19 e 24 anos, colocou oito voluntários ao som de suas músicas favoritas – do jazz ao tango –, enquanto avaliavam o nível de liberação de dopamina, atividade cerebral e frequências respiratórias e cardíacas. Além da alta taxa de liberação antecipada de dopamina, os voluntários apresentaram tremores de prazer durante o experimento.

Em um outro estudo foi constatado que pacientes colocados ouvir música enquanto estavam sob anestesia durante uma operação  cirúrgica ajudou a baixar os níveis de hormônios prejudiciais e o estresse operatório. 

Quem nunca ouviu falar de uma playlist pra hora de fazer amor? Uma seleção especial para dar aquele animo na corrida? Ou aquela musica que faz você dançar feliz da vida… O sertanejo “sofrência” que é “bão que só…”

Pesquisadores estão descobrindo o poder dos sons sobre o nosso cérebro – para o bem e para o mal – e usando melodias para o tratamento de doenças.

Alex Doman, coautor do livro Healing at the speed of sound (A cura com a velocidade do som, sem edição brasileira) conta como a música, o silêncio e o ruído têm papel importante no nosso humor, no desenvolvimento do cérebro e, por consequência, no nosso sistema imunológico. 

Na obra, eles ainda sugerem como usar a música em caráter medicinal. 

Há muitos estudos que associam a melhora de um paciente com os mais diversos problemas de saúde às terapias com música, especialmente às sessões em que o indivíduo escuta as músicas ou nas quais eles também poderiam manusear instrumentos. 

Os melhores resultados costumam ser relacionados ao estilo clássico. 

A Dra. Ana Maria Ferreira de Souza médica pediatra e pesquisadora do Grupo de Estudos da Dor da Divisão de Clínica Neurológica do HC da FMUSP realizou  pesquisa mostrando que, embora a explicação ainda não seja conhecida, a musicoterapia proporciona bem estar a uma pessoa e é eficaz como uma intervenção de apoio no tratamento de doenças.

Bem estar… Quem nessa época de pandemia não está precisando de se sentir bem e aliviado contra a enxurrada de informações tristes e o medo que nos assola?

De acordo com a pesquisa da Dra. Ana a música é capaz de influenciar o bem-estar de uma pessoa, diminuindo o stress, a ansiedade e até as dores após uma doença ou uma cirurgia.

Quando se trata de uma música que gostamos ou que é agradável, o corpo libera dopamina. A dopamina é o hormônio da alegria e um grande guerreiro no tratamento da tristeza e ansiedade. 

Nessa época de lives dos principais cantores, muitos pacientes tem reportado que se sentem felizes e que se distraem de suas preocupações. Alguns sentem que sua ansiedade diminui após uma sessão de musica em lives ou ouvir suas musicas preferidas… Ficandi em casa…

A música alivia o estresse, reduzindo os níveis de cortisol, substância responsável por essa irritação do dia a dia.

Ao ficarmos confinados em casa estamos produzindo o hormônio do estresse, o cortisol, que até tem uma função importante no nosso corpo. O problema que o acúmulo de cortisol pode causar insônia, aumento de peso, taquicardia e a pior coisa nos dias de hoje abaixar nossa imunidade.

A ciência reporta que pessoas ansiosas tem altos níveis de cortisol e que até mesmo na depressão esse hormônio está em doses alteradas.

Usar a música para abaixar os níveis de cortisol é uma solução prazerosa e super barata que está a disposição de todos. 

E não é só em hormônios que a música age. Pesquisadores japoneses observaram que a música pode aumentar a produção de linfócitos CD4 – soldados de defesa do sistema imunológico.  Eles submeteram camundongos a transplante cardíaco. 

Os animais foram divididos em grupos e todos foram submetidos a sessões de terapia com música. 

Cada grupo foi exposto a um estilo musical diferente – ópera, clássico e New Age – ou a algum som com uma única frequência, durante sete dias.

O Resultado?  Os ratos que foram expostos à música clássica ou à ópera tiveram maior sobrevida após o transplante do que os animais que ouviram New Age ou sons de frequência única na terapia. 

Ao longo do tempo, seu corpo pode aprender a reconhecer certos tipos de música (particularmente coro ou música clássica) como um incentivo para a imunidade, dando continuidade na melhora do seu sistema imunológico.

Uma explicação sobre o fato de a música clássica sempre se evidenciar  mais efetiva é que ela é composta por várias frequências sonoras advindas dos muitos instrumentos que compõem uma orquestra, por exemplo. Isto causaria uma estimulação modulada e intensa no cérebro causando maior efeito que uma música feita com um único instrumento e com poucos tons. 

A música acalma…

A capacidade de certos sons em diminuir as emoções negativas é extraordinária. 

Quando estamos irritados demais, aborrecidos ou de mau humor, um pouco de música é o melhor remédio, já que reduz os hormônios que causam o estresse e aumenta aqueles que provocam felicidade.

Dr. Ronny Enk, um perito em neurocognition no Instituto Max Planck, que liderou uma pesquisa sobre o efeito da música no estado emocional das pessoas, disse: “Achamos que o estado agradável que pode ser induzida pela música leva a mudanças fisiológicas especiais que eventualmente conduziriam ao estresse ou redução direta de atividade do sistema imune.

Um estudo feito pela Universidade de Drexel, nos Estados Unidos e divulgado em 2010 pela The Cochrane Library, por exemplo, observou que pacientes que respiravam com a ajuda de aparelhos apresentaram menos ansiedade e uma recuperação melhor quando ouviam alguma música do que aqueles que não entraram em contato com esse tipo de abordagem. 

Nesse mesmo ano, a Universidade de Tel Aviv, em Israel, concluiu um estudo mostrando que ouvir 30 minutos de Mozart todos os dias pode ajudar bebês prematuros a ganharem peso. Essa pesquisa foi publicada no periódico Pediatrics.

A diversidade faz a unidade ser verdadeira…

A diversidade faz a unidade ser verdadeira...Já dizia a letra que a força está na união , na soma do melhor de cada um. Aqui não está explícito na soma do “IGUAL” de cada um. Até porque uma corrente é feita de elos iguais e tem uma número de funções até bem definidas mas você não usaria uma corrente para resolver os problemas familiares ou no trabalho – se te deu essa vontade te aconselho procurara ajuda mental especializada agora !!!

O real sentido de uma diversidade é que possamos nos unir uns nos outros. Seus pontos fracos são fortalecidos pelos meus pontos fortes e vice-versa. Por isso a humanidade é uma entidade sociável e intercambiável.

Foi ao viver em união que percebeu-se que nossa sobrevivência estava garantida de forma mais plena e poderíamos conquistar e ampliar nossos territórios. Nosso livre arbítrio continuaria existindo mesmo conquanto eu me aproximasse do limites do outro, uma vez que as múltiplas possibilidades de interação social flexibilizariam a vida em sociedade e dariam um sabor novo a vida em comunidade.

Muitos há que com discursos contra as minorias tentam dizer que poderemos ser mais “puros e perfeitos” quando eliminarmos as diferenças e obtivermos uma raça purificada. Porém isto é um grande equívoco pois até as minorias nos fazem fortes.

Conta-se uma velha história de um cego que vivia as portas de uma cidade a pedir esmolas. Todos os dias sobrevivia da boa vontade dos que ali passavam e sofria com a indiferença dos que lhe cercavam. Provavelmente numa sociedade puritana ele já teria sido morto há eras. Porém certa noite ele percebeu um ruído diferente. Eram chinelas de couro em quantidade suficiente para causar muitos problemas. Percebera também chacoalhar de metal pesado contra cintos. A cidade estava sendo atacada. Mais que depressa correu e acordou o vigia da cidadela que soou o sinal e pode avisar os soldados e a cidade foi defendida. Um simples cego salva uma cidade. Não tinha valor militar mas possuía valo moral, e este último nunca poderemos medir.

Voltando ao exemplo da corrente uma vez se perguntou qual é a força de uma corrente? E respondeu-se: depende do elo mais fraco…

É cuidando dos fracos, dos necessitados, dos diferentes que conseguiremos atingir uma unidade forte e saudável. Quem detesta a diversidade quer um bando de robôs que pensam iguais e agem iguais. Dessa forma são mais manipuláveis e controlados.

Que ama a diversidade quer um bando de diferentes que juntos inventam coisas inimagináveis e podem atingir lugares nunca antes alcançados.

Outubro Rosa e o Câncer de Mama

cancer de mama

Outubro Rosa é uma campanha de conscientização que tem como objetivo principal alertar as mulheres e a sociedade sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama.

O câncer de mama é uma doença causada pela multiplicação de células anormais da mama, que formam um tumor. Há vários tipos de câncer de mama. Alguns tipos têm desenvolvimento rápido enquanto outros são mais lentos.

O câncer de mama é o mais incidente na população feminina mundial e brasileira, excetuando-se os casos de câncer de pele não melanoma.

No Brasil, as taxas de mortalidade por câncer de mama continuam elevadas, muito provavelmente porque a doença ainda é diagnosticada em estádios avançados. Na população mundial, a sobrevida média após cinco anos é de 61%.

Tocar o próprio corpo e reconhecer sinais de possíveis mudanças é uma importante ferramenta de empoderamento da mulher frente à própria saúde, mas não substitui a mamografia, por exemplo.

A idade é uma das causas apontadas como principais, mas sabemos que o risco pode aumentar com os hábitos de vida e fatores genéticos associados.

Alguns dos fatores de risco são:

  • Obesidade e sobrepeso após a menopausa;
  • Sedentarismo (não fazer exercícios);
  • Consumo de bebida alcoólica;
  • Exposição frequente a radiações ionizantes (Raios-X).
  • Primeira menstruação antes de 12 anos;
  • Não ter tido filhos;
  • Primeira gravidez após os 30 anos;
  • Não ter amamentado;
  • Parar de menstruar (menopausa) após os 55 anos;
  • Uso de contraceptivos hormonais (estrogênio-progesterona);
  • Ter feito reposição hormonal pós-menopausa, principalmente por mais de cinco anos.
  • História familiar de câncer de ovário;
  • Casos de câncer de mama na família, principalmente antes dos 50 anos;
  • História familiar de câncer de mama em homens;

O câncer de mama em homens é raro. Estima-se que, do total de casos da doença, apenas 0,8% a 1% ocorram em pessoas do sexo masculino.

Mudar estilo de vida pode reduzir 28% dos casos de câncer de mama de inflamação generalizada, o que a torna mais vulnerável a fatores cancerígenos. O recomendado é que o índice de massa corporal não ultrapasse 25, prevenindo 14% dos diagnósticos.

Deixar de lado o sedentarismo e queimar as gorduras levam a um equilíbrio dos hormônios e isso age de forma protetora contra o câncer. Mas comece em ritmo moderado, como uma caminhada mais acelerada, e por, no mínimo, 30 minutos diários. Com o tempo, a dica é tentar aumentar a intensidade ou estender o período. Essa medida isolada pode diminuir em 11% os casos de câncer de mama.

Alimentos de origem vegetal: frutas, legumes, verduras e leguminosas (como feijão, lentilha, grão-de-bico). Têm o poder de inibir a chegada de compostos cancerígenos às células e, ainda, consertar o DNA danificado quando a agressão já começou.

É importante que as mulheres observem suas mamas sempre que se sentirem confortáveis para tal (seja no banho, no momento da troca de roupa ou em outra situação do cotidiano), sem técnica específica, valorizando a descoberta casual de pequenas alterações mamárias.

As mulheres devem procurar imediatamente um serviço para avaliação diagnóstica ao identificarem alterações persistentes nas mamas. No entanto, tais alterações podem não ser câncer de mama.

Os principais sinais e sintomas do câncer de mama são:

  • Caroço (nódulo) fixo, endurecido e, geralmente, indolor;
  • Pele da mama avermelhada, retraída ou parecida com casca de laranja;
  • Alterações no bico do peito (mamilo);
  • Pequenos nódulos na região embaixo dos braços (axilas) ou no pescoço;
  • Saída espontânea de líquido dos mamilos

Relativamente raro antes dos 35 anos, acima desta faixa etária sua incidência cresce rápida e progressivamente. Estatísticas indicam aumento de sua incidência tanto nos países desenvolvidos quanto nos em desenvolvimento.

No Brasil, a mamografia e o exame clínico das mamas (ECM) são os métodos preconizados para o rastreamento na rotina da atenção integral à saúde da mulher.

A recomendação para as mulheres de 50 a 69 anos é a realização da mamografia a cada dois anos e do exame clínico das mamas anual. A mamografia nesta faixa etária e a periodicidade bienal é a rotina adotada na maioria dos países que implantaram o rastreamento organizado do câncer de mama. Tal estratégia pode reduzir a mortalidade por câncer de mama pode chegar a 25%

Para as mulheres de 40 a 49 anos, a recomendação é o exame clínico anual e a mamografia diagnóstica em caso de resultado alterado do exame médico. Segundo a OMS, a inclusão desse grupo no rastreamento mamográfico tem hoje limitada evidência de redução da mortalidade

Além desses grupos, há também a recomendação para o rastreamento de mulheres com risco elevado de câncer de mama, cuja rotina deve se iniciar aos 35 anos, com exame clínico das mamas e mamografia anuais.

Segundo o Consenso de Mama, risco elevado de câncer de mama inclui:

  • História familiar de câncer de mama em parente de primeiro grau antes dos 50 anos;
  • Câncer bilateral ou de ovário em qualquer idade;
  • História familiar de câncer de mama masculino;
  • Histopatológico de lesão mamária proliferativa com atipía ou neoplasia lobular in situ.

A definição sobre a forma de rastreamento da mulher de alto risco não têm ainda suporte nas evidências científicas atuais e é variada a abordagem deste grupo nos programas nacionais de rastreamento. Recomenda-se que as mulheres com risco elevado de câncer de mama tenham acompanhamento clínico individualizado.

O importante é a mulher passar em avalição médica anual e ao perceber qualquer alteração no seu corpo procurar ajuda especializada. E como vimos hábitos alimentares e de exercícios físicos podem diminuir muito o risco de se ter câncer de mama.

 

 

 

O Homem e sua frágil virilidade

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Talvez você já tenha se perguntado: porque a masculinidade é tão frágil? Porque homens tendem a ficar competindo ente si? Porque têm medo de intimidade com outros homens? Porque não se cuidam ou vivem se arriscando para mostrar que são mais fortes? Porque a heterossexualidade masculina é tão frágil que não permite o uso de uma cor, Rosa por exemplo, que se não eles perdem sua “macheza”?

Desde a fase edípica na qual o menino descobre, por comparação, que existe outro ser “como ele” mas que não tem o pênis, ou seja, desprovida de força viril, ele passa, com o desenrolar do Complexo de Édipo, a ter medo da castração.

Não podemos olhar para o pênis como somente o órgão sexual mas sim com o que ele representa socialmente construído: força, coragem, rigidez, supremacia,  autoridade, elegância, prazer entre outras infinitos constructos sociais.

Esse medo de perder todas as representatividades do pênis faz com que o homem passe a vida tentando defender sua virilidade. Sim, o homem é um ser preocupado com a defesa e a sustentabilidade do masculino o tempo todo. Ele age como se a menor ameaça pudesse transformá-lo em um ser castrado.

Essa preocupação faz com que ele seja irresponsável, não meça consequências, aja por impulsividade, entre em brigas, fuja de médicos e culmina com o machismo, a mais frágil forma de masculinidade.

É necessário discutir sobre a formação social do  masculino frente ao Complexo de Édipo e como podemos compreender melhor o papel social do macho. Assim tentaremos visualizaro que é ser homem no século XXI…