O ano de 2020 está sendo único para todos os povos do mundo. Além de estarmos enfrentando uma pandemia, nosso olhar afetivo foi duramente atraído para a questão do preconceito racial. No texto de hoje eu gostaria de chamar sua atenção para a saúde da população negra, e em especial a saúde mental dos afrodescentes.
Em 25 de maio deste ano, o mundo assistiu chocado o vídeo no qual se ouve a voz de George Floyd, negro norte americano que teve sua morte filmada. Sua voz ainda ecoa com seu clamor: “eu não consigo respirar…”.
Mais do que um ato fisiológico, este suspiro pela vida reflete o emocional de uma população, afrodescendente, que tem suas emoções, sentimentos e sofrimentos sufocados e vivem sob a coação de não poder viver conforme seu natural mas ter que se “adaptar” a uma cultura eurocêntrica.
Neste momento gostaria de fazer duas perguntas. A primeira direcionada à você que não é negro: como você se sente ao ver um ser humano morrer? Feliz? Triste? Chateado? Agora a segunda, você negro que assiste um homem negro morrer clamando por sua vida e dizendo “não consigo respirar…”, como você se sente? Feliz? Triste? Com medo? Desanimado?
Talvez você que me lê, ache estranho estes questionamentos. Mas é importante deixar claro que para o nosso cérebro existe uma conexão – empatia – com o indivíduo sofredor e as consequências emocionais serão diferentes. Se você é branco seu cérebro sofrerá um grau de estresse bem menor do que o que será vivenciado por um negro.
Sendo assim, a saúde mental da população negra sofre uma ação direta do preconceito. Neste momento gostaria de avaliar a definição do termo preconceito – conjunto de teorias e crenças que estabelecem uma hierarquia entre as raças, entre as etnias.
Deste modo, o preconceito se propaga em rebaixar uma determinada raça e colocá-la em um lugar inferior. E as consequências são desastrosas.
Quando falamos da chance de cometer suicídio, um negro tem 20% mais chance de fazê-lo do que um branco. Entre a população geral, quando avaliamos depressão grave, vemos que 62% destes eram pretos – dados de 2012.
E talvez aqui possa ter passado por sua cabeça o pensamento: “mas isto não tem relação com a genética deles, dos negros…”. E sou obrigado a dizer para você que não. Não existe qualquer relação genetica que determine a frequência maior da depressão entre negros do que entre brancos. Nos resta concluir que este estado emocional que pode levar a morte é resultante da soma de diversos fatores mas que não estão nos genes.
Um destes fatores é o acesso aos serviços de saúde. Dados revelam que 40% dos brancos buscaram serviços de saúde contra 2,5% de pretos resultado direto de como vivem os afrodescente, geralmente marginalizados nas periferias dos grandes centros.
Outro fator elencado é que a discriminação ocorre em todos os níveis sociais. Mesmo em estado de igualdade de salário, bens e profissional o negro brasileiro tem 50% maior chance do que brancos de sofrerem discriminação
Desta forma o cérebro de um individuo negro está sob constante ataque de múltiplos fatores estressores, tanto internos como externos. Imagine que o negro percebe o preconceito através de suas experiências de vida, somado a isto vive antecipando momentos nos quais estas vivências dolorosas podem acontecer/reacontecer e finalizando ainda se obriga, de forma inconsciente muitas vezes, a tentar se encaixar em padrões que não foram concebidos para seu tipo de cabelo, forma física e tonalidade de pele.
E estes fatos são antigos em nossa sociedade. Quando Jean Baptiste Debret pintou uma cena pitoresca da vida da população brasileira ele deixou claro o quanto o estilo de vida em terras tupiniquins era influenciado por um eurocentrismo e o quanto a escravidão estava presenta na nossa sociedade. No quadro “Um Jantar Brasileiro” – que na verdade era o almoço de hoje – ele comenta: “…a mulher se distraía com os negrinhos que substituem os doguezinhos”. Já percebemos aqui que as crianças pretas eram comparadas a animais que “divertiam” os brancos brasileiros.

Ao observamos a cena retratada vemos que os portugues estão vestido com roupas cheias de panos – no calor que segundo o próprio Debret poderia chegar aos 45oC – comendo com talheres. Uma negra escrava espanta as moscas e outros dois negros estão em prontidão para atender qualquer vontade dos seus donos.
Se você fitar o olhar do negro para a mesa perceberá um olhar mais profundo para a mesa. Enquanto os escravos eram alimentados com bananas e algumas porções de farinha e rapadura, à mesa destas duas pessoas há comida em excesso.
Outro quadro mostra o preconceito e a desvalorização da raça negra, de forma até internalizada pelos próprios pretos, é: A Redenção de Cam de Modesto Brocos. Nele, Brocos aborda o “embranquecimento” que eram ideais difundidos na sociedade brasileira com o objetivo de “purificar e redimir as populações negras”. Na pintura percebemos que a tela se constrói ao redor de uma criança branca – ponto mais branco de toda a pintura e o que mais atrai o olhar a primeira vista.

À esquerda do observador vemos uma mulher negra, próxima a uma palmeira – selvagem – faz um movimento de dar graças pelo que ocorre na cena. Já à direita do observador vemos um homem branco, sentado em postura europeia numa casa e com os pés sob um chão revestido por pedras – civilizado.
A criança branca é segurada por uma mulher, ainda com traços negros, porém de pele mais clara. A duas mulheres da tela são negras, porém usam roupas a moda europeia numa clara referência ao apagamento modelagem de vestimentas africanas. Chega a tal ponto essa negação cultural que a moça que segura a criança é pintada em semelhança a Virgem Maria mãe de Jesus. Ela está com um manto azul e com o mesmo modo do braço direito e o simbolismo nas posições dos dedos de diversos quadros religiosos.
Novamente vemos que a valorização do branco é representada ao vermos que os homens – considerados superiores e de maior valor – são brancos e as mulheres – inferiores e por quem o pecado entrou no mundo – são negras. E neste sentido, Modesto mostra o quanto a religião teve participação na escravidão das comunidades negras. Vemos no título da obra as palavras redenção e Cam. Com a primeira, que significa resgatar o gênero humano e purificá-lo, vemos a intenção de Brocos de evidenciar essa narrativa da igreja romana. Na segunda palavra, Cam, temos a análise mais absurda feita de um texto bíblico. Cam foi um filho de Noé que recebeu uma maldição de ser escravo de seus irmãos por ter visto seu pai nú e ter ido debochar disso com seus outros irmãos – Jafé e Sem. Desta forma, vários teólogos europeus usaram esta passagem da narrativa bíblica para justificar que os negros deveriam ser escravizados. Porém não nenhuma fundamentação histórica ou arqueológica que ligue os povos africanos à descendência de Cam.
Voltando ao quadro vemos que os personagens negros estão aparentemente felizes em abrir mão de suas origens em favor de parecer com os brancos. Mas será que era uma alegria verdadeira ou uma mera satisfação por saber que a próxima geração não teria que experienciar as mesmas situações desfavoráveis?
Uma clara verdade que todos nós que lidamos com saúde mental sabemos é que quem não tem orgulho de suas origens está mais propenso a sofrer de baixa autoestima e transtornos emocionais
Lamentavelmente o resultado é que a população negra sofre mais do ponto de vista da saúde mental. Gostaria de retomar com você aquelas perguntas que fiz antes: como você se sente ao ver um negro morrer por asfixia mecânica sob o joelho de um policial branco enquanto clamava: “eu não consigo respirar…”.
Se você é branco e ainda possui traços de boa humanidade provavelmente você ficará triste, chateado e no máximo revoltado. Mas se você for negro, seu cérebro fará uma simples leitura: poderia ser eu no lugar dele, logo o sofrimento emocional experimentado será infinitamente maior. Percebem a diferença?
Lutar contra o racismo é salvar vidas. Você não precisa ser um profissional da saúde para trabalhar na linha de frente salvando pessoas da morte. Daí mesmo do seu local é possível
à você fazer isto. Pense em como seu papel, como suas ações ainda refletem o racismo estruturado em nossa sociedade. Avalie como você pode agir para reparar a dívida histórica que temos com os pretos. Repense quais vantagens você possui por ser branco.
Agora, especialmente para você negro que está me lendo, eu gostaria de dizer: não desista dos seus sonhos. Não deixe que pessoas ditem o valor que você tem ou a forma como você deve agir, ser ou se vestir. Seu valor é medido pelo sangue de um Deus que te ama não por sua cor de pele, mas pelo que você é: filho dEle. Este mesmo Deus não exige que você use tal roupa, tenha um nariz fino ou possua um cabelo liso. Suas únicas exigências são que você O ame de todo o seu coração e ao próximo na mesma medida que você se ama. E se for preciso procure ajuda em saúde emocional relevante.
Sidilene Antônia Mudesto Mulher negra de 43 anos, que trabalha como nutricionista na periferia de São Paulo – Capão Redondo – há 12 anos. Precisamos falar sobre racismo e o quanto ele é prejudicial para nossa sociedade. Neste artigo eu converso com Sidilene Atônia Mudesto, uma mulher negra de 43 anos, que trabalha como nutricionista…
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